quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Arte puramente brasiliense


entre,

          entre por favor
entre blocos
entre quadras
  entre,

          entre por favor

Super Quadra / 2009 óleo sobre tela


subo aos céus
pelas escadas rolantes
da rodoviária de brasília
o corpo de cristo
aqui não é pão,
é pastel de carne

o sangue de cristo
aqui não é vinho,
é caldo de cana
o padroeiro desta cidade
é dom bosco ou padim ciço?


BsB/ 2005 Téc Majólica policromada
AMOR ÀS PAMPAS
      pra ângela

você voltou
pro seu rancho
no rio grande
enquanto eu fiquei
aqui a ver
ministérios...

brasília já teve
de mim
o pedaço que queria
o pedaço
fedia
(agora é a vez
de braxília)




POLÍTICA LITERÁRIA

o poeta da asa norte
discute com o poeta
da asa sul
pra ver qual deles é capaz
de bater o poeta
do plano piloto
enquanto isso, um poeta
de uma cidade-satélite
qualquer
tira a lama do sapato

DRUMMOND BRASILIENSIS

brasília, e agora?
com o avião na pista,
quer levantar vôo,
não existe vôo...
quer se afogar no lago
mas o lago secou...
quer falar com o presidente
mas este viajou...
quer se esconder no cerrado,
o cerrado acabou...
quer ir pra goiás,
goiás não há mais...
brasília, e agora?

Plano Piloto/ BSB 50 Téc. Majólica policromada



enterrem
meu coração
na areia
do parquinho
da 415 sul
e deixem
meu corpo
boiando
no paranoá






imagine
        brasília
              não-capital
não-poder
             não-brasília
        assim é
 BRAXÍLIA


Contra Plano. Téc Mista sobre tela
LORCA BRASILIENSIS
brasília que te quero braxília
plano que te quero piloto
super que te quero quadra
dabelhu que te quero três
éle que te quero dois
grande que te quero circular
cidade que te quero satélite
pastel que te quero caldo
escada que te quero rolante
iogurte que te quero farinha
cerrado que não te quero soja






L 2 é pouco
W 3 é demais
quando estou
muito triste,
pego o
grande circular
e vou passear
de mãos dadas
com o banco


naquela noite
suzana estava
mais W3
do que nunca
toda eixosa
cheia de L2
suzana, vai ser
superquadra
assim lá na
minha cama


nem tudo
que é torto
é errado
veja as pernas
do garrincha
e as árvores
do cerrado


Ilha Seca/ Téc Tapeçaria


olhos cerrados
abertos
para ver
certos
cerrados
certos
e certos
desertos
errados
(o deserto certo
chora areia)


Trânsito/ BSB 50 Téc Majólica policromada



nossa senhora
do cerrado,
protetora
dos pedestres
que atravessam
o eixão
às seis horas
da tarde,
fazei com que eu
chegue
são e salvo
na casa da noélia





SAUDADES DE BRAXÍLIA

soltar pipa no eixão
nadar e pescar no paranoá
comer pastel na rodoviária
estacionar no setor comercial sul
voltar da festa a pé, altas horas
catar gabirobas perto da catedral
namorar embaixo do bloco
cruzar a L2 de patins e a W3 de skate
pegar um grande circular e circular
de mãos dadas com o banco
ver estrelas, muitas estrelas
pescar no riacho fundo,
que hoje atravesso a pé
erik volta do parquinho com
sementes de leucena na mão e
pergunta: são essas as sementes
que você colocou
na minha mãe?



os três
poderes
são
um só:
o deles

Plano Piloto. Téc tapeçaria


senhores turistas,
eu gostaria
de frisar
mais uma vez
que nestes blocos
de apartamentos
moram inclusive
pessoas normais


Trânsito




SUPERQUADRAS
na entrada,
um quebra-molas
e uma banca de
jornal
blocos blocos blocos
blocos blocos blocos
blocos blocos blocos





bem, 
o sr.já nos mostrou
os blocos, as quadras,
os palácios, os eixos,
os monumentos...
será que dava pro sr.
nos mostrar a cidade
propriamente dita?

Construção/ BSB 50 


sem nada pra fazer
   ando por baixo dos
      blocos duma
         quadra qualquer
    atrás das pilastras
       apenas mais
                    pilastras
atrás das pessoas
          uma nova máscara
       ou muitas
conhecidas

Nicolas Behr : poeta brasiliense (mas nascido em Cuiabá!) dedicado ao tema da cidade , criador do neologismo "Braxília" que aconteceu por acaso mas que veio a calhar- um dia estava datilografando poemas e errou uma letra , corrigindo-a ficou BRAXÍLIA . Corresponde perfeitamente ao sentimento que eu vivo afirmando que existe uma Brasília a mais , uma aurea da cidade que a parte política não expressa , a magia especial da cidade em si . Ele disponibiliza seus livros de graça abertamente no seu site ! O tipo de coisa que gosto (: 

Delei :  oou Antonio Wanderlei Santos Amorim , nasceu em 1953 em Minas .Vive em Brasília desde 1960. "Em 1972 inicia suas questões plásticas com a cidade, participando de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Trabalha a partir de 1979 como arte educador na rede de escolas públicas. Atuou como arte terapeuta junto a grupos de meninos e meninas de rua. No Centro de Criatividade do Hospital Sarah e também com os internos da Papuda". As obras aqui apresentadas são do calendário de 2012 com técnicas de óleo sobre tela e outras não tão convencionais como a majólica policromada , "pintura no azulejo" e as tapeçarias , desenhadas por ele e passados para tapeçaria pela "Casa Caiada" .

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Should I buy a new guitar ?



As novidades evolucionárias que levaram ao surgimento da linguagem e, mais tarde, da escrita, são  exemplos das transformações fundamentais, quase ontológicas, da linhagem hominídea. Além de nos  proporcionar a capacidade de coletar dados fora dos confins do DNA, as atividades cognitivas permitem transmitirmos informações através do espaço e do tempo. A princípio isso significava simplesmente a capacidade de gritar ou dar uma ordem, na verdade pouco mais do que o grito de alarme que é característica familiar no comportamento dos animais sociais. Com o passar da história humana esse impulso de se comunicar motivou a elaboração de técnicas de comunicação cada vez mais eficazes. Mas em  nosso   século   essa   capacidade básica se transformou na comunicação através da mídia, que literalmente engolfa o espaço ao redor do planeta. O planeta nada num oceano de mensagens autogerado. Chamadas telefônicas, trocas de dados e diversões eletronicamente transmitidas criam um mundo invisível experimentado como a simultaneidade informativa global. Nós nem pensamos nisso; como uma cultura, consideramos ponto pacífico.
     Nosso amor especial e febril pela palavra e pelo símbolo deu-nos uma gnose coletiva, uma compreensão   coletiva de nós mesmos e de nosso mundo, que sobreviveu através da história até épocas bem recentes.   Essa gnose coletiva está por trás da fé que os séculos anteriores tinham em"verdades universais" e em   valores humanos comuns. As ideologias podem ser vistas como ambientes de significados definidos. São invisíveis, no entanto nos rodeia e determinam para nós – ainda que possamos jamais perceber – o que devemos pensar sobre nós mesmos e sobre a realidade. De fato, elas definem para nós o que podemos pensar.

Terrence McKeena - O Alimento dos Deuses
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